"Ou você é livre, ou você não é. Ou você é livre e a coisa é autêntica, real, viva, ou não é nada." (A humilhação, Philip Roth)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

sábado, 26 de novembro de 2011

Memória

Eu valorizo a memória. Eu lembro muito, sou conhecida por lembrar. Às vezes acho que é uma qualidade, às vezes acho que não é.
Mas é fato, eu aprecio a memória. Esta semana Eliane Brum escreveu em sua coluna (http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/11/lembrar-para-esquecer.html)  que  é preciso poder lembrar para poder esquecer. Eu não poderia estar mais de acordo. O que não pode ser lembrado, não pode ser dito, tão pouco pode ser esquecido. Só é possível esquecer aquilo que é possível ser lembrado. Nas histórias das pessoas, nas histórias das coletividades, a máxima também vale. Faz tempo, no mestrado, eu aprendi que, segundo M. Halbwachs, a memória é seletiva e sempre construída a partir do presente, com base em valores, comportamentos e experiências atuais. Por isso uma história de vida pode ser reinterpretada, isto é, pode ser lembrada de maneiras distintas em distintos momentos da vida daquele/daquela que conta a história. E não é que o relato da memória seja mentira, ilusão, nada disso. O relato muda porque nós mudamos e a maneira como descrevemos o que vivemos também muda conosco. Essa é a beleza, podemos lembrar de fatos, aromas, sabores, de tantas coisas, de modos distintos ao longo de nossas vidas. 
Mas toda memória que é negada impede a transformação. Toda memória que é banida impede a elaboração do que se viveu e a construção do novo. Casualmente, esta semana assisti a dois documentários sobre memória. O primeiro se chama La columna de los ocho mil (http://www.rebelion.org/noticia.php?id=138679&titular=la-columna-de-los-ocho-mil-), sobre um massacre acorrido na região de Badajoz, Espanha, em 1936. O filme mostra como muitos acontecimentos da guerra civil espanhola ainda são nebulosos, foram "apagados", e é como se não tivessem acontecido. O filme é impressionante, talvez ainda mais porque eu nunca tinha ouvido falar desse massacre... O outro filme se chama Arquivos da cidade (O filme tem 29 minutos, é de 2009, foi realizado por Luciana Knijnik e Felipe Diniz. Tem como tema principal os movimentos de resistência à ditadura civil-militar (1964-1985) que atuaram em Porto Alegre/RS. O documentário põe em cena experiências vividas por cinco militantes e um familiar de desaparecido.). O filme brasileiro fala de um massacre e violências dos quais já ouvi falar. No entanto, embora eu já tenha presenciado relatos sobre experiências de tortura vividas durante o período da ditadura no Brasil, sempre que vejo um filme, ou leio um algum relato, a sensação de horror se instala e é como se estivesse tomando contato com essas histórias pela primeira vez. 
O que é claro em ambos os filmes é que, em especial para os que sobreviveram, ter que lidar com as suas memórias e com o "esquecimento" coletivo é excruciante. É algo que dá um tom de irrealidade ao que viveram. E sofrem mais uma violência sem par. A uma certa altura do filme espanhol, um pesquisador conta que o processo de "banimento da lembrança", dos fatos relativos à coluna, foi a tal ponto eficiente que muitas pessoas chegam a dizer que a coluna e o massacre nunca aconteceram, mas ao serem mencionados alguns fatos, as pessoas começam a dizer: Sim, claro! Eu me lembro!! E aí dão detalhes sobre o que viram, ouviram ou viveram. Nada mais violento que tentar eliminar a memória. Porque ela não morre, alguém sempre irá lembrar. Aqui, na Espanha, ou em qualquer lugar, a memória é o que nos permite ser/estar no mundo. Um dos militantes contra a ditadura que deu seu relato no filme brasileiro, diz, não exatamente com essas palavras, que é quem é porque viveu tudo o que viveu, isso faz parte de quem ele é, do seu pior e do seu melhor. O que interessa é a ideia aqui colocada, a de que a memória nos faz quem somos. Ignorar a memória é ignorar o que, quem e porque somos.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

 
NACER HOMBRE
Adela Zamudio*
Cuánto trabajo ella pasa
Por corregir la torpeza
De su esposo, y en la casa,
(permitidme que me asombre)
tan inepto como fatuo
sigue él siendo la cabeza,
porque es hombre.

Si alguna versos escribe
-¿De alguno esos versos son
que ella sólo los suscribe?;
(permitidme que me asombre)
Si ese alguno no es poeta
¿por qué tal suposición?
-Porque es hombre.

Una mujer superior
en elecciones no vota,
y vota el pillo peor;
(permitidme que me asombre)
con sólo saber firmar
puede votar un idiota,
porque es hombre.

Él se abate y bebe o juega
en un revés de la suerte;
ella sufre, lucha y ruega;
ella se llama ¿ser débil?,
y él se apellida ¿ser fuerte?
porque es hombre.

Ella debe perdonar
si su esposo le es infiel;
mas, él se puede vengar;
(permitidme que me asombre)
en un caso semejante
hasta puede matar él,
porque es hombre.

¡Oh, mortal!
¡Oh mortal privilegiado,
que de perfecto y cabal
gozas seguro renombre!
para ello ¿qué te ha bastado?
Nacer hombre.
* Adela Zamudio (La Paz, 1854 - Cochabamba, 1928)
Poetisa e novelista boliviana.
Dirigiu a primeira escola laica da Bolivia, em La Paz. Fundou a primeira escola de pintura para mulheres (1911) e posteriormente para crianças. Entre sua dedicação à educação e sua atividade literária, Zamudio desenvolveu um significativo trabalho sociocultural em defesa da emancipação intelectual e social da mulher. 


 http://www.taringa.net/posts/arte/3812936/Nacer-Hombre___-por-Adela-Zamudio.html

http://arte_latino.tripod.com/Bo/biografias/adelazamudioBIOG.htm 




domingo, 9 de outubro de 2011

Eu me lembro...

Eu me lembro...
Lembro de meu pai, de coisas que ele me disse. Algumas posso "ouvir" com a voz dele, coisas bobas e coisas importantes. Lembro de pessoas que se foram, de pessoas que ficaram, de lugares, de casas, de roupas, de situações, de rostos, de cheiros, de sabores, de sensações, de sons, de ruídos, de sentimentos.
Lembro de coisas que vivi e de coisas que não vivi.
Lembro de sorrisos, dados, recebidos. De abraços, dados, recebidos. De lágrimas, dadas, recebidas. De amigos, que foram, que ficaram. De coisas que vi, de detalhes.
Lembro de coisas que li, de coisas que não li. De filmes que vi, de filmes que não vi. De emoções que senti, de emoções que não senti. De músicas que ouvi, de músicas que não ouvi. De coisas que disse, de coisas que não disse. De coisas que quis dizer, de coisas que não quis dizer. De coisas que fiz, de coisas que não fiz. De coisas que quis fazer, de coisas que não quis fazer.
Lembro...
Tanto!! Às vezes é bom, às vezes não é. Lembro demais. Lembro todos os dias.
Eu me lembro...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

La obstinada potencia de la descolonización Por Raúl Zibechi (Alainet)

Sobre o conflito em torno da construção da estrada que atravessará TIPNIS.

http://www.rebelion.org/noticia.php?id=136593&titular=la-obstinada-potencia-de-la-descolonizaci%C3%B3n-

Fonte: http://alainet.org/active/49763

Lobo suelto!: Bolivia del TIPNIS: entre la vergüenza de haber si...

Lobo suelto!: Bolivia del TIPNIS: entre la vergüenza de haber si...: por Salvador Schavelzon (especial para Lobo Suelto!) (Silvia Rivera sobre el conflicto en Bolivia) Es fácil caer en...