"Ou você é livre, ou você não é. Ou você é livre e a coisa é autêntica, real, viva, ou não é nada." (A humilhação, Philip Roth)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Porque La Paz "te atrapa" ou "me ha atrapado"...

Em outubro passado fui a Cochabamba para o Congresso da Clacso, lá conheci Juan Bello, professor da mexicana UNAM e uma pessoa incrível. Ao me ouvir falar em e de La Paz, me olhou e disse:"La Paz te ha atrapado!!" Foi a primeira vez que me dei conta de que sim, La Paz tinha, numa tradução livre e imprecisa da expressão, me ganhado...
Mas não foi La Paz que me "ganhou", foi a Bolívia, o povo boliviano, a paisagem do Altiplano (que eu tinha lido sobre em José Maria Arguedas, mas nem podia imaginar a grandiosidade e beleza), foram os amigos que fiz aqui e, mais que tudo, foi a vivencia que me transformou em uma pesquisadora mais curiosa, com mais "ganas" de saber... se saberei ou não, são outros 500... mas é fato que hoje sou/estou diferente como pessoa e como pesquisadora.
Listar o que pude aprender aqui não vem ao caso. O que quero é tentar, pelo menos, manifestar porque decidi ficar mais tempo na Bolívia.
O momento que o país vive é de mudança (anunciada aos quatro ventos, aliás), ou de um esforço gigantesco neste sentido. Poder viver e observar esse processo, com todos seus acertos e equívocos é um privilégio. Como antrópologa, hoje me sinto mais preparada e, no entanto, menos capaz... Explico. Preparada para ver e ouvir, mas menos capaz de analisar e chegar à conclusões. Uma vez me ouvi de Acácio Almeida dos Santos, pesquisador sério, estudioso das questões afro-brasileiras e africanas, que quem passa uma semana no continente africano escreve um livro, quem passa um mês escreve um paper e quem passa um ano por lá não consegue escrever nada, tamanhas as questões e o quanto elas estão imbricadas... é claro que isso é força de expressão... Mas, o fato é que, às vezes, quanto mais vemos, ouvimos e vivemos, menos somos capazes de escrever sobre esse contexto. Ou mais achamos que temos que ler, ver e ouvir para escrever para consegui-lo... Eu tenho certeza que conseguirei, mas, definitivamente, preciso desse tempo mais...