"Ou você é livre, ou você não é. Ou você é livre e a coisa é autêntica, real, viva, ou não é nada." (A humilhação, Philip Roth)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

"Em “homenagem" ao frio de La Paz." Poema do amigo Vinícius Mansur

Em “homenagem" ao frio de La Paz.

O frio escracha


Ai que saudade que eu tenho da praia e da moçada.

De quentes bate-papos sobre o nada.

Explicados por cerveja gelada.

Ai que saudade que eu tenho de escutar a onda em queda.

E até daquele caldo que ao ouvido veda.
E até de quem da areia grita merda.

Ai que saudade que eu tenho das roupas de praia perdidas.

Gargalhando das bundas duras ou caídas.

Da vergonha sem salva-vidas.

Ai que saudade que eu tenho de todas aquelas rodas.

Sempre atentas as novas modas

e repleta de empata-fodas.

Ai que saudade que eu tenho do chinelo e da bermuda,

Do peito aberto pelo janeiro que desnuda.

Mas aqui no frio o sentido muda.

Como pôde o Neruda?

A rima mudou de rumo, o poeta pede ajuda.

Ai que saudade que eu tenho das palavras mais carnudas.

Se em janeiro faz frio, se calor é vinte graus,

Puta que pariu, como será meu carnaval?

Mas mantenho o escracho contra o verão invernal.

Com a poesia já perdida, espero como verdade a fervura global.


abs pra vcs,
V.