"Ou você é livre, ou você não é. Ou você é livre e a coisa é autêntica, real, viva, ou não é nada." (A humilhação, Philip Roth)

domingo, 27 de março de 2011

Uma semana e uma sucessão de descobertas

Em uma semana vivi uma quantidade de coisas e sentimentos completamente surpreendentes e inauditos...
Me dei conta que me conectar com a Bolívia e escrever a tese me custa porque preciso entrar em contato com sentimentos que estão ligados a muito mais que saudade. Sim, eu sinto uma saudade infinita da Bolívia e dos amigos que fiz por lá... Muitos não estão mais lá, o que me faz ter a sensação de que tenho saudades de uma época, o que, confesso, chega a me fazer temer voltar a La Paz, por mais que queira rever os amigos que continuam lá, rever o Illimani e sentir o cheiro de anticucho e folha de coca pelas ruas... Mas é que não só construí minha pesquisa de doutorado, na Bolívia me reconstruí. Hoje sou/estou melhor porque tive a sorte de viver no país, o privilégio de conviver com quem eu convivi, de viver o que vivi. Penso que cada um de nós é como um mosaico, "eu-mosaico" me refiz por lá. Como nas cores dos aguayos, ganhei mais cor e mais vida. Presunsosamente, acredito que fui "tocada" pelos Apus, e eles me fizeram mais forte, mais eu. O que evidentemente não significa mais objetiva ou focada no que diz respeito à tese... mas isso já é outra coisa... O que importa é que, essa semana, percebi que não posso negar que além de trabalho de campo, eu me refiz na Bolívia e que devo às pessoas que conheci lá, aos momentos que vivi e ao país muito do que sou hoje. E, na minha avaliação, hoje sou/estou melhor, MUITO melhor.
E porque sou/estou melhor, nessa semana pude descobrir outras coisas... Por exemplo, que fazer uma loucura, algo fora do meu "script" pode ser saudável e, eventualmente, recomendável. Porque nehuma loucura que eu faça será algo tão louco assim que eu não possa lidar. Sou/estou mais forte!! E que prezo MUITO a gentileza. Isso, gentileza. No trato pessoal, nas relações mais comezinhas, em casa, no trabalho, em todos os cantos. E que gentileza, para mim, significa a delicadeza da honestidade e da verdade. Não é uma mera questão de "etiqueta", embora ela também seja relevante... mas uma questão de ver e viver a vida com gentileza, que sejamos francos uns com os outros, que digamos o que verdadeiramente sentimos. Faz tempo aprendi que tem gente que teme a verdade. Eu não. A verdade pode doer, mas toda dor passa. A mentira fica. A dor da mentira passa, como toda dor, mas a mentira fica. Então, para que? Acho que a honestidade permite que nossas relações mudem de patamar, por mais que custe um tempo. A porta fica aberta, porque houve verdade. A mentira decepciona e fecha portas.
Pude confirmar que é melhor experimentar um segundo de maravilha que nunca viver uma. E que quero isso. Quero apenas maravilha. Quero verdade. Quero gentileza. E agradeço aos céus, aos Apus, à Pachamama, por ter ido para a Bolívia, ter voltado para São Paulo, e ter podido me dar conta de tudo isso. Porque, sim, eu penso muito, mas, às vezes, pensar muito me leva a descobrir coisas como essas. E viver/construir uma pesquisa de campo em antropologia pode permitir que façamos uma tese, mas, também, um novo "eu-mosaico".