"Ou você é livre, ou você não é. Ou você é livre e a coisa é autêntica, real, viva, ou não é nada." (A humilhação, Philip Roth)

domingo, 13 de setembro de 2009

Ato HondurasresistenBolivia

Uma das coisas mais interessantes desde que cheguei a La Paz foi me descobrir latino-americana... Os brasileiros não costumam se sentir latinos e isso tem muitas razões, como o fato de não termos sido colônia espanhola e portanto não falarmos espanhol, mas, também penso, talvez isso tenha a ver com o Atlântico ali, quase inteiro a nossa disposição e nos convidando para mirarmos a África, a Europa, o mundo. O curioso é notar que podemos mirar o mundo, mas não o mundo inteiro, porque, de alguma maneira, nos mantemos de costas para o subcontinente do qual fazemos parte.
O sentimento de latinidade estava mais que explícito neste evento que ocorreu no Etno Cafe (na Calle Jaén, centro de La Paz), entre os dias 27, 28 e 29 de agosto. Fui ao evento nos dias 27 e 28, assisti várias apresentações de música, poesia, de artes visuais e uma exposição de fotografias tiradas em Honduras nos dias após o golpe. Todos se sentiam profundamente conectados, irmanados no horror de assirtir ao surgimento de mais uma ditadura na América Latina e, o mais surpreendente, em pleno século XXI... Dava para sentir no ar o temor dos latino-americanos de que isso volte a acontecer em seus respectivos países... Para mim foi bastante forte ver as imagens fotográficas... tinha a sensação de já conhecer aquelas imagens e, aos poucos, me dei conta de que sim, infelizmente, conheço... as imagens são profundamente semelhantes às imagens de repressão às manifestações contra a ditadura no Brasil, não fosse pelas mudanças da moda, as fotos que vi poderiam me ser apresentadas como fotos tiradas nos anos 60, 70 ou 80 em qualquer país latino-americano e eu não duvidadria de sua origem... No momento em que me dei conta disso, ainda no dia 27, senti um frio na barriga... não só me senti mais latino-americana que nunca, como um arrepio de medo me correu na espinha. Quem nos garante que isso não voltará a acontecer no Brasil, na Bolívia, ou onde quer que seja? Evidentemente os processos de contituição da ordem democrática nos diferentes países da América Latina foram e são diferentes, mas quem nos garante que seu desenvolvimento não pode vir a ser interrompido? Ninguém... Honduras é um exemplo disso. No Brasil tendemos a acreditar que tudo mudou e que vivemos uma democracia que se desenvolve de vento em popa. Ok, concordo, temos eleições livres e diretas regularmente e sem maiores percalços, mas a maioria da população é semi-analfabeta e as elites regionais continuam sendo as detentoras do poder político. Nosso regime democrático é recente, são dez anos desde as primeiras eleições diretas para presidente pós ditadura, em 1989. Se é verdade que parecemos ir bem neste quesito no Brasil, também é verdade que é fundamental uma reflexão sobre que democracia e que país almejamos construir. Nem tudo está resolvido e não podemos esquecer que nós, brasileiros, TAMBÉM somos latino-americanos!!

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